terça-feira, 25 de outubro de 2011

Leite em pó e os pediatras da Nestlé

Num mundo governado pelo capital, não é de se surpreender que a alimentação dos nossos filhos se torne mercadoria. Pior ainda quando se tratada alimentação de um bebê.

Na década de 1920, a Nestlé chega ao Brasil. A farinha láctea, responsável pela criação da empresa, já era importada antes da instalação da primeira fábrica da Nestlé no estado de São Paulo, a qual se destinava a produção do Leite Moça. Em 1929 e 1931, respectivamente, surgiram o Lactogeno e o Nestogeno, leites em pó para consumidores mirins, desde o nascimento.

Em artigo consultado, cuja discussão evidencia a importância dos almanaques nos aspectos culturais da sociedade brasileira, cita-se : A propaganda do Almanaque Nestlé (1940, p. 13) oferecia o leite industrializado desde os primeiros dias de vida da criança: "Lactogeno é um leite em pó preparado pela Nestlé, de composição semelhante à do leite materno, e especialmente indicado para a alimentação dos bebês, desde os primeiros dias. Leite em Pó LACTOGENO faz crianças fortes e alegres".”

Cabe ressaltar que no inicio do século XX os brasileiros passavam por um processo de modernização crescente ligado ao incremento industrial. Portanto, aspectos culturais foram se modificando, entre eles o aleitamento materno. A citada industrialização e a progressiva inserção das mulheres no mercado de trabalho foram responsáveis pela demanda, e também por maior propaganda, de leites artificiais.

O aumento da oferta dos leites industrializados no Brasil, a partir da década de 1930, produziu mudanças nos discursos médicos relacionados à amamentação. Segundo Almeida (1999, p. 39), a corporação médica, aos poucos, deixou de condenar o desmame para, subliminarmente, estimular a alimentação artificial com a mamadeira.” Logo, o chamado “biberon”, de origem francesa, e o leite em pó se tornaram sinônimos de modernidade.

Desde então a Nestlé apresenta discursos em prol dos pediatras, como na campanha de 2009 que mencionei no post anterior, e também em prol da construção de uma nação de crianças bem alimentadas, calmas, equilibradas, com bons hábitos de saúde e educação.

Assim como o parto cesariano tem sido indicado deliberadamente para mulheres que poderiam passar por trabalho de parto normal, os médicos cada vez mais induzem as mães a “complementar” a alimentação de seus bebês com leite em pó. Para recém nascidos que não atingem a curva média de crescimento, mães com dificuldades na amamentação, até outros problemas de alergia alimentar (como foi o caso com a Liv) ou não dormir a noite, leite artificial tem sido a resposta.

Pausa: gostaria de deixar esclarecido que não sou contra as mães que dão mamadeira de leite em pó para seus bebês. Fico, sim, muito revoltada com médicos que, sem motivos substanciosos, empurram o NAN ou qualquer outro para essas mães, levando-as crer que seu leite é fraco ou que não sabem amamentar.

A verdade é que todos esses problemas seriam resolvidos se os profissionais estivessem comprometidos com o bem estar da mãe e do bebê e dispostos a, de fato, ajudar ambos. Quero também lembrar que amamentar não é um ato fácil como se apregoa por aí. É preciso paciência e toda a orientação possível. Sem isso, está fadada ao fracasso. Por exemplo: o bebê deve esvaziar uma mama, antes de oferecer-lhe a outra. O leite tem duas fases: uma mais aquosa, cuja função é hidratação, e uma mais gordurosa, para a engorda do rebento. Se você seguir a orientação dada por alguns médicos de cronometrar no relógio X minutos no peito direito, X no esquerdo, seu bebê pode ficar sem receber a parte mais calórica do leite. Logo, ele poderá engordar menos. Obviamente, ele precisará de complemento na opinião desse mesmo médico.

Pediatras agradecem bebês bem gordinhos em seus consultórios; sinônimo de que é um médico muito bom...

Não sou fundamentalista. Existem casos e casos. Mas a resposta para todos os casos não é o leite artificial. Acredito, sim, que as relações baseadas na hipocrisia e no dinheiro podem comprometer a nossa saúde e a dos nossos filhos.

Um abraço,

Suellen

Artigo: A infância nos almanaques: nacionalismo, saúde e educação (Brasil 1920-1940)

Site: História da Nestlé

Blog Mamadeira Nunca Mais

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Fim da Tormenta?


Há algum tempo não venho com notícias neste blog. Parece que, mesmo negada por alguns especialistas, passei pela crise dos 3 meses com a pequena Livia. Isso porque, na semana em que completou os exatos 3 meses, as coisas desandaram de um jeito que todas as explicações buscadas não davam conta de melhorar a situação.

Tudo começou com noites mal dormidas. De dia era uma irritação só. O choro se tornou constante. O pediatra acreditou que se tratava de fome e passou complementação (leite materno ou NAN na mamadeira). Ok, ela não queria... Depois de uma semana, quando tudo parecia ter voltado ao normal, estávamos no mesmo pé.

Decidi procurar outro médico, afim de sanar as dúvidas e entender porque alguns sintomas tinham sido ignorados pelo anterior: sangue e muco nas fezes, as quais vinham em excesso depois das mamadas. Esses, disse ele, são fatores cujo diagnóstico é alergia à proteína do leite da vaca. Simples assim? Parece que foi. Cortei leite e derivados e voltei a dormir a noite e boa parte da irritação de dia cessou.

Parece, assim espero, que esse foi o desfecho da história. Não foi fácil, mas passou. Talvez não precise comentar, mas fiquei bastante revoltada com o pediatra. Uma investigação um pouco mais atenta poderia ter evitado tudo isso.

Um dia conto para vocês as contradições com as quais me deparei. Tem a ver com o fato da amamentação, apesar de muito incentivada, pode ser facilmente negligenciada pelos médicos. A inserção de leite em pó nas dietas das crianças, nem sempre necessária, é mais comum do que imaginamos. Sem teorias da conspiração, a Nestlé tem forte vínculo com a SBP - Sociedade Brasileira de Pediatria - logo, os profissionais tendem a boicotar a amamentação ou simplesmente não dão o suporte e informações necessários para que as mães continuem amamentando.


Isso é conversa para um outro post...

Um abraço,

Suellen

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Dor do Choro

Eis que a minha pequena agora dorme. Foi uma briga feia de alguns minutos; dela com o soninho. Mamãe agora chora, de cansaço, de angústia...

Há uma semana não durmo direito. O padrão de sono da Livia mudou drasticamente após ter completado 3 meses. Dizia, com orgulho, quando comecei esse blog, que meu bebê dormia das 19h as 7h com apenas 2 mamadas. Hoje, ela acorda 5, 6 ou mais vezes, ora para mamar, ora para colocar a chupeta.

Outra frustração foi levá-la ao pediatra e constatarmos seu ganho de peso abaixo da média. “É preciso complementação”. Dar NAN 1, sendo que faço doação de leite? Como assim? Tem algo errado... Ela recusa meu peito depois de mamar, mas não é possível que seja desmame precoce. Sempre interpretei como se estivesse saciada e ainda acredito que não passe fome.

Suspeito, isso sim, da minha super proteção, de nunca querer vê-la chorar. Em nenhum desses 3 meses ela adormeceu sozinha. Sempre foi com mamá, com mantinha, com chiado, com balanço. Poucas vezes dei oportunidade a ela de se acalmar sozinha, mesmo que para isso ela precisasse chorar. Logo, ela não dorme quando quer, mas quando EU quero.

Ela hoje chorou, chorou muito. Peguei no colo, coloquei a chupeta, barulho de mar, balancinho... nada a acalmava. Ela chorou bastante e, firme, não chorei, mas estive junto dela o tempo todo. Espero que ela saiba que eu estava lá, presente, sem saber o que fazer, mas estive presente. No fim, dormiu.

Talvez agora seja hora dela caminhar esse passo sozinha. Mas dói tanto no coração da mãe.

Um abraço,


Suellen

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Filho de Peixe...


Quando estava grávida, criei várias expectativas quanto ao temperamento do meu bebê. Isso porque, na gestação, tendemos a visualizar um bebê ideal, obra da nossa ilusão. Mesmo não sabendo se era menino ou menina, imaginava-me tendo um filho muito tranqüilo e bonzinho. Não digo que a pequena Liv não seja tranqüila e boazinha, no entanto não é a calmaria que imaginara.

Sinal de saúde uma pessoinha tão ativa e curiosa. Esbugalha os olhões para tudo e se remexe inteira, apesar da falta de coordenação. Durante o dia precisa de muito cuidado para adormecer e assim permanecer; em outras ocasiões comentei que dorme apenas 30-45 min e acorda super disposta, sorridente. Mas chora de cansaço e resiste ao sono. É o jeitinho dela.

É o jeitinho também das mulheres da família; bisavó, avó e mãe. Agitadas, perspicazes, não se permitem estarem paradas. Minha mãe me alertou: “fique tranqüila, senão a Livia será um bebê agitado”. Receio que ela nasceu até bem calma, perante os 9 meses que passei. Foram preocupações da faculdade, dos preparativos do casamento, da chegada de um recém nascido e qualquer outro imprevisto... Não sou a pessoa mais zen do mundo, pelo contrário, então como poderia ter uma filha assim?

Há uns poucos anos sonhava em mudar o mundo, realizar grandes projetos em prol da sociedade. Agora sei que cada um faz o seu pouquinho para mudar o entorno. Meu maior projeto dorme agora em seu balancinho...

Um abraço,


Suellen